quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A Mendiga do Termômetro

Pessoal,

Preciso dividir essa história que aconteceu comigo e minha amiga Heloísa (@heloca) em um desses sábados pós-balada. O intuito disso não é discutir questões sociais quanto aos moradores de rua ou qualquer coisa do tipo, a história é bizarra e engraçada (principalmente do meio em diante) e por isso estou contando para vocês.

Para vocês terem ideia, é só tentar imaginar um link que uma mendiga e um termômetro tenham, que você consegue ver o grau de bizarrice que essa história chega.

Em um sábado, um sol malandro meio chove meio esquenta, horário de almoço. Eu e @heloca ficamos de ir até o Starbucks beber um café e se atualizarem da noite anterior. Como combinado, fiquei de esperar ela me ligar para que eu fosse até o carro dela, quando ela chegasse em casa.

Recebi o toque, e desci. Esperei 5, 10, 20 minutos, e nada. Estranhei, a @heloca mora do LADO de casa, não tinha razão para ela demorar. Enquanto isso...

@heloca entrou no seu carro para me pegar. No entanto, foi interrompida por uma mulher parada ao lado do seu carro.

Essa mulher era uma mendiga, na vibe nega maluca (isso mesmo imagina uma negra de black power), apenas alguns dentes na boca, magrinha, e cheia de pinduricalhos. Ela também estava bem agitada. Heloísa, sempre gentil mas atenta (SP é violenta, é preciso ficar alenta), baixou um pouco do seu vidro.

Mendiga: - Me dá umas muédinha moça.
Helô: - Ai, moça desculpa. Mas eu não tenho.


Mendiga: - Vai moça, da umas muédinha aí.
Helô: - Desculpa, só estou com cartão aqui.


Mendiga: - Moça me arranja aí uns dinhero.

@heloca, já irritada, pega a carteira e abre para a mendiga ver. Lá se encontra seu documentos, e os cartões, apenas.

Helô: - Olha aqui moça, só tem os cartões. Controlando a irritação da voz.

A mendiga parou alguns segundos. Pensou. E disse:

Mendiga: - Hum, tá. Faz assim então. Me compra um leite peu dá po meu filho.

@heloca surpresa pelo começo de uma negociação completamente inusitada. Contra argumentou:

Helô: Mas moça, onde eu vou comprar um leite agora, a essa hora?!

A mendiga parou alguns segundos. Pensou. E disse:

Mendiga: - Hum, tá. Faz assim então. Compa uma caixa de bombom, que eu vendo nu farol e faço "fintchy reãins".

@heloca, sempre gentil. Cedeu.

Helô: - Tá, vou dar uma volta no quarteirão e te trago a caixa de bombons.
Mengia: - Se num vai volta né.
Helô: - Claro que vou. Mas eu preciso dar a volta no quarteirão. Vou ir comprar de carro.

A mendiga parou alguns segundo. Pensou. E disse:

Mendiga: - Hum, tá. Faz assim então. Eu vo andanu nessa rua, e nóis encontra na padaria lá da esquina.
Helô: Combinado.

@heloca sai com o carro, compra a caixa de bombom, e vai embusca da mendiga. Dá uma, outra, e mais outra volta no quarteirão, e nada da mendiga. Ela pensa, e decide buscar seu amigo (Eu, no caso) antes de continuar a busca.

Depois de meia hora que eu já havia descido, @heloca aparece com uma caixa de bombom no banco do carro.

Vitor: - Ahh mentira. Que fofa, me trouxe um presente.
Helô: NÃO VITOR. É pra mendiga.
Vitor: - Oi?

E assim, ela me conta toda a história.
@heloca estava determinada a achar a mendiga, e eu, comovido pela história, decidi abraçar a causa. Mais algumas voltas, e lá estava ela, louca, pilhada andando pela calçada. @heloca foi, e parou o carro ao seu lado.

De repente, quando a Mendiga ve a @heloca, ela vira para o lado, e aos berros, grita para um sujeito que acreditamos ser seu companheiro de rua:

Mendiga: EU FALEI QUE ELA IA VOLTA, NUM FALEI??!

@heloca, gentilmente entregou a caixa de bombons.
A mendiga pegou a caixa, olhou ela alguns segundo. Pensou. Olhou para Heloísa, e com uma voz irritada perguntou:

Mendiga: - E a nota?

Eu e @heloca fizemos aquela cara de Oi?

Helô: - Que nota?
Mendiga: A NOTA. A NOTA DA CAIXA DE BOMBOM. (Já mais irritada).
Helô: Moça, não tem nota, não peguei nota.
Mendiga: Quanto cê pago?
Helô: Foi 8 e pouco.
Mendiga: CADE A NOTA? A NOTA, QUE SAI DO CARTÃO, CADE?
Helô: Desculpa moça, não fiquei com a nota.
Mendiga: AS PULIÇA VÃO FALA QUE EU ROBEI AGORA.

Tenso.

Foi a vez da @heloca negociar.

Helô: Hum, tá. Faz assim. Tira o plástico, que os policiais não vão achar que você roubou.

Segundos de silêncio, com a mendiga olhando fixa nos olhos de @heloca.

Mendiga: COMO É QUE EU VOU VENDER NO FAROL SEM O PRÁSTICO?!

E do nada, a mendiga muda o tom de voz. Para uma voz mais calma, entusiasmada.

Mendiga: Óia o que eu peguei no lixo para vender no farol.

E tirou uma embalagem  do tamanho de uma caixinha de pasta de dente com uma mulher sorrindo, mais ou menos assim:


Em seguida, ela puxou um objeto de dentro da caixinha. @heloca, automaticamente já se afastou com tudo para trás, grudando seu corpo no banco, com uma cara de choque. Eu, apertei os olhos para ter certeza do que estava vendo.

Mendiga: Óia só, tava na caixinha e tudo. (Falou isso enquanto xacoalhava o objetivo dentro do carro, toda feliz).

E @heloca solta:

Helô: Tadinha da bichinha, tá grávida.
Mendiga para de xacoalhar o objeto e olha sério para a Helô: Que grávida o que.

Helô: É moça. Isso é um teste de gravidez. 

E era mesmo, a pontinha tava até amarelinha.

Mendiga: Magina, é aqueles negócio de medi febre, de por aqui ó. (E levou o teste de gravidez para debaixo do braço, simulando um termômetro medindo uma febre).

Helô: Não moça, é um teste de gravidez.

A mendiga parou pensativa alguns instantes, murmurou alguma coisa, tirou o termômetro debaixo do braço, guardou na caixinha, colocou de volta em sua bolsa, e saiu.

Eu fico imaginando essa mendiga vendendo o teste no farol.

4 comentários:

Léu disse...

Seu melhor post até agora! Não parei de rir... agora, corajosa a @heloca, hein? Ela vai acumular um carma muito bom! E sabe, geralmente vendem balas e carregadores de celular no sinal. Aposto que uma mulher tensa e ansiosa pode acabar comprando o famigerado teste... mulheres em São Paulo são ocupadas e não têm tempo de ir à farmácia.

Samy disse...

O melhor mesmo é tentar imaginar porque lugares aquele "termometro" já havia passado antes de ir parar naquela axila!
E sabe que por fim, do jeito que ela foi boazinha, não me pareceria estranho se a @heloca ainda comprasse o tal teste...

Léu disse...

Pena que eu não tenho útero, se não eu compraria o bendito teste.

PS.: quando eu vou conhecê-la? (a mendiga)

Pedro disse...

Gente, difícil hein...
Pior que eu consegui imaginar a cena toda na minha cabeça...
Já passei por umas quase assim...
Ai a pergunta que num quer calar: será que ela conseguiu vender o tal do teste?